terça-feira, 14 de setembro de 2010

Demissão vai atingir 1 em cada 8 servidores cubanos

Da Folha Press - publicado na Gazeta do Povo - Edição 14/09/2010

Até março de 2011 cerca de 500 mil trabalhadores perderão o emprego no setor público e terão de buscar renda no setor privado

Caracas - O governo cubano anunciou ontem que vai demitir até março de 2011 ao menos 500 mil trabalhadores estatais, ou 12,5% da for­­ça de trabalho do país comunista. Mais meio milhão estaria “excedente’’ no país, ou seja, pro­­­­vavelmente será demitido numa se­­gunda etapa. O corte é uma das mais importantes e delicadas me­­didas econômicas do país em ao menos 20 anos.

A demissão em massa foi co­­municada pela Central de Traba­­lhadores de Cuba (CTG), ligada ao governo, em informe no jornal estatal Granma. Os cortes começam no mês que vem.

Segundo a CTG, os demitidos serão inseridos no setor “não estatal’’ da economia – e apenas as vagas “imprescindíveis’’ serão repostas no Estado, em áreas co­­mo agricultura e educação.

Para ampliar as vagas no setor privado, o governo incentivará o “arrendamento, o usufruto [de terras], cooperativas e trabalho por conta própria, para onde se moverão milhares de trabalhadores nos próximos anos’’.

O ditador Raúl Castro havia anunciado em agosto passado que o Estado facilitaria licenças para pequenos negócios hoje restritas – de barbearias a pequenas oficinas mecânicas.

Disse ainda que esses negócios, que passarão a pagar impostos, poderiam, pela primeira vez, contratar funcionários.

Segundo documento do Par­­tido Comunista cubano citado pelo jornal Financial Times, Ha­­vana pretende conceder mais de 400 mil novas licenças.

A central anunciou que a me­­dida faz parte do plano de “atualização do modelo econômico’’ cubano – os dirigentes comunistas rejeitam falar em “transição”– apenas dias depois de o ex-ditador Fidel Castro haver dito, em entrevista à revista The Atlantic, que o antigo modelo cubano “não funciona nem se­­quer’’ para Cuba.

Risco político

A demissão em massa é considerada uma medida necessária há anos para aumentar os baixos índices de produtividade da ilha. Mas é arriscada politicamente, uma vez que as vagas desaparecerão, já que as liberalizações no pequeno sistema privado apenas engatinham no emaranhado bu­­rocrático estatal.

Segundo o governo, Cuba tem pouco mais de 5 milhões de ocupados, sendo que 4,2 milhões es­­tão no Estado. O setor privado, com 500 mil trabalhadores, é representado por pequenos produtores rurais.

“É uma medida necessária, mas é muito preocupante. Em abril, serão 500 mil pessoas sem trabalho sem que o governo te­­nha feito as reformas necessárias para absorvê-los. O que foi feito até agora é muito tímido. O modelo não precisa de atualização, precisa de mudança radical’’, diz o economista Oscar Chepe.

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