Caracas - O governo cubano anunciou ontem que vai demitir até março de 2011 ao menos 500 mil trabalhadores estatais, ou 12,5% da força de trabalho do país comunista. Mais meio milhão estaria “excedente’’ no país, ou seja, provavelmente será demitido numa segunda etapa. O corte é uma das mais importantes e delicadas medidas econômicas do país em ao menos 20 anos.
A demissão em massa foi comunicada pela Central de Trabalhadores de Cuba (CTG), ligada ao governo, em informe no jornal estatal Granma. Os cortes começam no mês que vem.
Segundo a CTG, os demitidos serão inseridos no setor “não estatal’’ da economia – e apenas as vagas “imprescindíveis’’ serão repostas no Estado, em áreas como agricultura e educação.
Para ampliar as vagas no setor privado, o governo incentivará o “arrendamento, o usufruto [de terras], cooperativas e trabalho por conta própria, para onde se moverão milhares de trabalhadores nos próximos anos’’.
O ditador Raúl Castro havia anunciado em agosto passado que o Estado facilitaria licenças para pequenos negócios hoje restritas – de barbearias a pequenas oficinas mecânicas.
Disse ainda que esses negócios, que passarão a pagar impostos, poderiam, pela primeira vez, contratar funcionários.
Segundo documento do Partido Comunista cubano citado pelo jornal Financial Times, Havana pretende conceder mais de 400 mil novas licenças.
A central anunciou que a medida faz parte do plano de “atualização do modelo econômico’’ cubano – os dirigentes comunistas rejeitam falar em “transição”– apenas dias depois de o ex-ditador Fidel Castro haver dito, em entrevista à revista The Atlantic, que o antigo modelo cubano “não funciona nem sequer’’ para Cuba.
Risco político
A demissão em massa é considerada uma medida necessária há anos para aumentar os baixos índices de produtividade da ilha. Mas é arriscada politicamente, uma vez que as vagas desaparecerão, já que as liberalizações no pequeno sistema privado apenas engatinham no emaranhado burocrático estatal.
Segundo o governo, Cuba tem pouco mais de 5 milhões de ocupados, sendo que 4,2 milhões estão no Estado. O setor privado, com 500 mil trabalhadores, é representado por pequenos produtores rurais.
“É uma medida necessária, mas é muito preocupante. Em abril, serão 500 mil pessoas sem trabalho sem que o governo tenha feito as reformas necessárias para absorvê-los. O que foi feito até agora é muito tímido. O modelo não precisa de atualização, precisa de mudança radical’’, diz o economista Oscar Chepe.
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