segunda-feira, 19 de abril de 2010

FHC fala sobre o mito LULA

OPINIÃO

(Com trechos extraídos do Programa Canal Livre/ TV Bandeirantes)

Em entrevista concedida na noite passada, Fernando Henrique Cardoso aceitou a tese de que Lula tornou-se um “mito”.

Foi instado a comentar um raciocínio atribuído ao sociológico Hélio Jaguaribe: um mito só pode ser “contraposto” por outro mito.

“Não necessariamente”, disse FHC. “Às vezes não precisa contrastar o mito. Deixa o mito. Pelé foi um mito. Isso não impediu que houvesse o Ronaldo”.

Ele falou ao programa Canal Livre, da TV Bandeirantes. Noutro trecho, FHC foi instado a explicar a impermeabilidade de Lula ‘Teflon’ da Silva.

Por que nada de ruim gruda no presidente? FHC listou dois motivos: “Primeiro, a situação econômica é boa. O segundo é que ele é muito bom pra comunicar”.

Acha que Lula é a cara do brasileiro? “De um certo tipo de brasileiro, sim”, FHC assentiu. “Mas ele tem um lado macunaímico forçado demais”, alfinetou.

Recordou-se durante a entrevista uma tese do próprio entrevistado: não se ganha eleição sem emoção. Perguntou-se: A emoção de 2010 não seria Lula?

E FHC: “Pois é, mas se ficar só no presidente Lula não passa pra Dilma [Rousseff]. A emoção tem que se corporificar em alguém”.

Disse que, numa eleição, “o desempenho do ator é essencial”. Evocou o exemplo de Barack Obama. “Ele eletrizou” o eleitorado americano, disse.

Por que votar em José Serra e não em Dilma Rousseff? “O Serra tem experiência política e serviços prestados ao Brasil. É líder, comandou…”

“…É uma pessoa que a gente pode dizer: Esse eu sei que faz”. E quanto a Dilma?

“A outra é uma incógnita…”

“…Não quero criticá-la, Eu não sei, não sei, não sei o que ela fez. Ela nunca liderou nada. É difícil entregar o destino do país a alguém assim”.

Irônico, FHC disse que, “de repente, na campanha, Dilma demonstra” do que é capaz. “O Obama demonstrou. Mas é preciso ser Obama, ter capacidade de liderar”.

Que peso terá Lula, do alto de sua popularidade, na eleição? “O peso é grande”, disse FHC. “É tão grande que a Dilma tem votos”.

Realçou, porém, o fato de que a popularidade de Lula [76% segundo o Datafolha] é, hoje, maior do que o percentual de votos de Dilma [28%].

“Há muitos casos de gente com muita popularidade que não transferiu. No Chile aconteceu. Disse que, no passado, dera-se coisa semelhante também no Brasil.

Tendo prevalecido sobre Lula em duas eleições presidenciais, por que não conseguiu eleger José Serra como sucessor em 2002?

“Por duas razões”, FHC respondeu. “Primeiro que o meu governo não estava no auge da popularidade…”

“…[...] Segundo, eu não fiz o que o Lula está fazendo. Nunca achei que fosse correto” jogar o peso do cargo na promoção de uma candidatura.

“É natural que as pessoas tenham o seu candidato. Mas o presidente Lula extrapolou. Isso não fui eu quem disse. Foi o tribunal que disse. Foi multado…”

“…Qual o presidente da República que, no Brasil, foi multado por um tribunal e ainda debochou do tribunal? É um comportamento inédito…”

“…A popularidade não dá direito à pessoa desrespeitar a minoria e a lei. Eu não faria isso nunca. Pode ser que, de repente, eu perca a eleição, mas não perco a compostura”.